Na LAAD 2011, o Ministro Arturo Puricelli da Argentina e Nelson Jobim assinam acordo para o desenvolvimento da aeronave de transporte KC-390 Foto - EMBRAER. |
Artigo de José Monserrat Filho
É chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB
É chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB
"A eliminação da guerra é o nosso principal problema."
(Hans Kelsen, jurista e filósofo austríaco.1)
(Hans Kelsen, jurista e filósofo austríaco.1)
Este tema é um super desafio global.² Bastará ir à Feira Internacional de Defesa e Segurança "LAAD Defence & Security".
Você verá vendedores, compradores, tecnólogos, especialistas em
marketing e geoestratégia de dezenas de países. São fabricantes,
fornecedores, pesquisadores e consumidores (públicos e privados) de
tecnologias e equipamentos (inclusive espaciais), e serviços para as
Forças Armadas, Polícias, Forças Especiais e para empresas de segurança
corporativa.
A
LAAD, em sua 9ª edição, terá lugar novamente nas amplas dependências do
Centro de Convenções e Exposições Riocentro, no Rio de Janeiro, de 9 a
12 de abril próximo. E, claro, deve revelar o estado da arte dos
produtos e serviços necessários às ações de defesa e segurança pública e
corporativa, além de promover debates sobre as questões pertinentes no
mundo atual.
Em
2011, no mesmo local, a LAAD recebeu 14 ministros de Defesa, comitivas
oficiais de 63 países, 300 delegados oficiais, 663 expositores de 40
países, 25.800 visitantes de 54 países. Além disso, teve 21 pavilhões
nacionais e sua mostra ocupou 50 mil m² de área interna e 10 mil m² de
área externa. Assim, há razões de sobra para a LAAD ser considerada a
maior e mais importante feira do setor na América Latina.
As
atividades de defesa e segurança estão hoje entre as mais intensas,
crescentes, perigosas, caras e lucrativas do mundo. Os investimentos,
aí, costumam ser milionários, quando não bilionários. São todas elas
atividades necessárias e inevitáveis? Muitas o são, sem dúvida,
sobretudo as que protegem a ordem constitucional interna dos países.
Outras, são altamente polêmicas, tanto no âmbito internacional, como no
interno. Ainda há muitas guerras julgadas desnecessárias, injustas e
perfeitamente evitáveis. Basta acompanhar as intervenções e votações da
maioria dos países na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) nas
últimas décadas.
Certo,
já não há mais Ministérios da Guerra, como antigamente. A Carta da ONU,
adotada em 1945 após as barbáries da 2ª Guerra Mundial, conseguiu,
enfim, pela primeira vez na história do direito internacional, vetar o
uso da força, e até mesmo a ameaça de seu uso ¨C ou seja, a guerra e a
ameaça de guerra ¨C para resolver litígios internacionais. Ao mesmo
tempo, a Carta erigiu o princípio da solução exclusivamente pacífica das
controvérsias. Neste novo quadro jurídico, como manter o nome de
Ministério da Guerra, se a guerra passara a ser legalmente proibida?
Assim,
não cabe mais falar em guerra, só em defesa. Isso muitas vezes
corresponde à verdade dos fatos. Outras vezes, seria o caso de voltar ao
nome de Ministério da Guerra. E aí, para dissimular o caráter agressivo
das ações realizadas ou planejadas, cai bem a palavra "defesa".
A
realidade é que a dobradinha "defesa & segurança" nem sempre
aparece como legítima e legal. Certo, todos os países têm o direito
inalienável de garantir sua segurança nacional e de se defender de
agressões à sua soberania e independência, bem como de qualquer
intervenção em seus assuntos internos. É lícita a intervenção aprovada
pelo Conselho de Segurança da ONU, quando comprovada a prática por um
país de genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes
de agressão. Violações dos direitos humanos e do direito internacional
geral, devidamente demonstradas e apreciadas, também podem ser objetos
de condenação por órgãos da ONU ou por suas Cortes Internacionais de
Justiça (Corte de Haia e Corte Penal).
No
entanto, o ordenamento jurídico internacional vigente, tanto pela letra
como pelo espírito, não admite de modo algum ações unilaterais
empreendidas por um ou mais países, à revelia da ONU, como não raro tem
ocorrido. As decisões arbitrárias minam a convívio normal, regular,
cooperativo e razoavelmente justo entre os países E empestam o clima
mundial de intranquilidade, ceticismo, desconfiança, medo e ódio.
Em
oposição, vale o que afirma Thomas J. Schoenbaum, professor da
Universidade George Washington, EUA, e da Universidade Internacional
Cristã, Japão: "O estado de direito e o respeito pelas instituições
internacionais podem se tornar a pedra de toque das relações
internacionais no Século XXI, porque, pela primeira vez na história
humana, povos e nações do mundo inteiro abraçaram objetivos e interesses
comuns: fim da violência e da guerra, prosperidade econômica, proteção
ambiental, redução da pobreza e das doenças, e proteção dos direitos
humanos."3
Na
maior parte dos países, inclusive no Brasil, defesa e segurança
nacional significam exatamente isso: defesa e segurança nacional.
Ninguém deseja ou pretende ir além de suas fronteiras.
O
Brasil hoje preocupa-se em manter a soberania nacional intimamente
vinculada à defesa do território, e em garantir a segurança pública,
como manda a Constituição Federal de 1988. Atitudes e ambições que um
dia extrapolaram esse princípio básico, felizmente, ficaram no passado.
Temos
nada menos de 16.866 km de fronteiras com dez países vizinhas, onde
cultivamos uma convivência respeitosa e construtiva. Zelamos pela
integralidade de nossas regiões-limite, com base no Plano Estratégico de
Fronteiras (PEF), que visa prevenir e inibir os crimes nas áreas
fronteiriças, combater o crime organizado e os traficantes de armas e
drogas que se infiltram em nosso país, e melhorar o nível de vida de
cerca de seis milhões de pessoas que moram em municípios remotos.4
Nosso Exército atua
também em qualquer região do país em que a presença militar se faça
imperativa para inibir e enfrentar ações hostis vindas do exterior. Com
aviões e equipamentos de alta tecnologia, nossa Força Aérea zela pela
soberania de nosso espaço aéreo, para nenhuma aeronave estrangeira
invadir o território brasileiro sem a devida autorização. Nossa Marinha
realiza ações semelhantes para preservar a integralidade de nossas
fronteiras marítimas, que, aliás, são muito ricas.
Desenvolvemos
uma Estratégia Nacional de Defesa insuspeita, à qual submetemos o
avanço de uma indústria bélica à altura de nossas necessidades e
possibilidades legítimas, respeitando os nossos compromissos
internacionais. A política de ciência, tecnologia e inovação para a
defesa está cada vez mais ligada ao esforço de estimular o progresso
científico e tecnológico do país.
É
dentro desses parâmetros, conquistados com enorme empenho e juízo, que o
Brasil chega mais uma vez à LAAD. Isso seguramente nos estimula a
perceber e a cultivar, cada vez mais, a consciencia de que os problemas
da defesa e segurança são o maior desafio global do nosso tempo. Dele
depende o uso racional e produtivo dos bilhões de dólares hoje
desperdiçados em guerras inúteis, desnecessárias, injustas e evitáveis. E
dele depende também a conquista de uma paz real e responsável em todo o
mundo, essencial para a sobrevivência e o avanço da civilização humana.
Referências
1) Kelsen Hans, jurista e filósofo austríaco (1881-1973), A Paz pelo Direito (original em inglês de 1944), S. Paulo: Martins Fontes, 2011, p. 17.
2) "O rumo mais provável para nosso futuro é o mais perigoso", escreve o economista Joshua Cooper Ramo, ex-editor da revista "Time", in A Era do Inconcebível, S. Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 21.
3) Schoenbaum Thomas J., International Relations ¨C The Path Not Taken ¨C Using International Law to promote World Peace and Security, New York, USA: Cambridge University Press, 2006, p. 11.
4) Ver <www.brasil.gov.br/sobre/o-brasil/defesa-e-seguranca-publica>.
Fonte: DefesaNet.
Defesa e Segurança no Século XXI.
Reviewed by Consultor de Segurança Eletrônica
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00:48:00
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