Publicado Jornal da Ciência
José Monserrat Filho
Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB.
"É possível reinventar o modelo de relações entre estes Estados, livres das amarras que parecem vincular outros quadros regionais." (Paulo Borba Casella ¹)
José Monserrat Filho
Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB.
"É possível reinventar o modelo de relações entre estes Estados, livres das amarras que parecem vincular outros quadros regionais." (Paulo Borba Casella ¹)
O
Brasil mantém excelentes laços de cooperação com China e Rússia, que,
por sua vez, também desenvolvem excelente relações, a começar pela área
de política internacional. Isso fortalece o BRICS, fórum também
integrado pela Índia e a África do Sul, que deve realizar sua próxima
Reunião de Cúpula na cidade sul-africana de Durban, em 26 e 27 de março.
O BRICS tem despertado especial atenção do mundo inteiro, sobretudo dos
países desenvolvidos.
Não
por acaso, a conceituada Universidade de Leiden, na Holanda, promoverá o
"Simpósio sobre Aspectos Políticos e Jurídicos da Cooperação Espacial
entre a Europa e os Países do BRICS Inventário, Desafios e
Oportunidades", em 16 de maio próximo. Para esse evento inédito no
chamado mundo avançado, estão convidados o Prof. Paulo Borba Casella, da
Faculdade de Direito da Universidade de São Pulo, que abordará o tema
"BRICS: Do Conceito à Realidade", e o autor destas linhas, que falará
sobre a "Cooperação Espacial Brasil-China: o Programa CBERS". Será um
encontro interdisciplinar, co-organizado pelo Instituto Internacional de
Direito Aeronáutico e Espacial da Faculdade de Direito e pelo
Departamento de Estudos Latino-Americanos da Faculdade de Humanidades da
Universidade de Leiden, a mais antiga do país, criada em 1575.
Rússia e China - Os Ministros das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e da China, Yang Jiechi, tiveram importante encontro em Moscou na sexta-feira, 22 de fevereiro. Entenderam-se até sobre a situação na Síria, com a meta sensata de evitar o aumento dos conflitos dentro e fora do país. A unidade sino-russa, anunciada pela France Press, inclui um fato de suma relevância política e diplomática: a Rússia poderá ser o primeiro país a ser visitado pelo Presidente eleito da China, Xi Jinping, agora em março, logo após sua confirmação como Chefe do Estado, sucedendo a Hu Jintao. Xi Jinping e o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, participarão, a seguir, da Cúpula do BRICS, em Durbam, onde certamente empenharão todo o seu prestígio.
Rússia e China - Os Ministros das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e da China, Yang Jiechi, tiveram importante encontro em Moscou na sexta-feira, 22 de fevereiro. Entenderam-se até sobre a situação na Síria, com a meta sensata de evitar o aumento dos conflitos dentro e fora do país. A unidade sino-russa, anunciada pela France Press, inclui um fato de suma relevância política e diplomática: a Rússia poderá ser o primeiro país a ser visitado pelo Presidente eleito da China, Xi Jinping, agora em março, logo após sua confirmação como Chefe do Estado, sucedendo a Hu Jintao. Xi Jinping e o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, participarão, a seguir, da Cúpula do BRICS, em Durbam, onde certamente empenharão todo o seu prestígio.
"Rússia
e China sustentam as mesmas posições e as aplicam nas negociações sobre
o Oriente Médio, o Norte da África, a crise síria, o Afeganistão, o
programa nuclear iraniano, além de outras situações críticas", declarou
Lavrov à imprensa, ao lado de Yang. E acrescentou: "Em todos esses
casos, nós e nossos amigos chineses orientamo-nos pelo mesmo princípio
da necessidade de se respeitarem o direito internacional e os
procedimentos da ONU, de não se permitir a interferência nos conflitos
domésticos e, mais que tudo, o uso da força". Os dois chanceleres
consideram "inaceitável" o terceiro teste nuclear realizado pela Coreia
do Norte, no início deste mês.
Ainda
segundo a France Press, Yang teve na ocasião uma conversa a portas
fechadas com Putin, de onde saiu afirmando que "as relações sino-russas
são de enorme importância não apenas para os nossos países, como também
têm influência sobre o fortalecimento da paz e do desenvolvimento no
planeta como um todo". O ministro chinês disse ainda que o volume de
comércio entre os dois países superou os 80 bilhões de dólares, em 2012,
e que "há boas razões" para crer que esse montante poderá chegar a 100
bilhões, em três anos, ou seja, lá por 2015.
Apesar
da clara sintonia, russos e chineses ainda não lograram concluir a
venda de quase 70 bilhões de metros cúbicos anuais de gás da Rússia para
a China nos próximos 30 anos. A empresa Gazprom, da Rússia, e a
Companhia Nacional de Petróleo da China, que firmaram acordo-quadro em
2009, seguem discutindo a questão do preço. Mas, dado o significado do
tema, não se descarta a possibilidade de os dois países resolverem o
impasse antes da Cúpula do BRICS. Seria uma demonstração insofismável de
aliança sólida e de muito longo prazo.
Brasil e Rússia - A Declaração Conjunta da VI Reunião da Comissão Brasileiro-Russa de Alto Nível de Cooperação,
assinada pelo Vice-Presidente do Brasil, Michel Temer, e pelo Chefe do
Governo da Rússia, Dmitry A. Medvedev, em Brasília, em 20 de fevereiro,
deixou clara a amplitude dos temas discutidos entre os dois países. Os
dois mandatários "ressaltaram a importância do fluido diálogo político
no âmbito de sua Parceria Estratégica e mostraram satisfação pelos
resultados da Reunião de Consultas Políticas (...)". A Comissão analisou
grandes temas da agenda internacional: cooperação em fóruns
multilaterais, ONU, BRICS, G20, entre outros; reforma da ONU e de seu
Conselho de Segurança; o impacto da crise econômico-financeira mundial
na política global; não-proliferação de armas nucleares, desarmamento e
controle de armas; cooperação internacional no combate aos novos
desafios e ameaças; e Direitos Humanos. Tratou-se, ainda, da atual
situação do Oriente Médio, Norte da África, região do Cáucaso, da
América Latina e Caribe, Comunidade de Estados Independentes, Mercosul,
Unasul, Celac, OEA, União Aduaneira e União Euro-Asiática.
Os
dois países decidiram também iniciar negociações para a compra de
baterias antiaéreas russas pelo Brasil, o desenvolvimento conjunto de
novos produtos de defesa, e a transferência de tecnologia para a
participação de empresas estratégicas brasileiras nos processos de
produção e sustentabilidade logística integrada.
A
Presidente Dilma Rousseff recebeu o Premier Medvedev no Palácio do
Planalto e lembrou sua visita a Moscou, em dezembro de 2012, quando o
Presidente Vladimir Putin lhe manifestou o apoio russo ao Programa
Ciência sem Fronteiras, do Brasil. Dilma frisou naquele encontro: "A
Rússia tem enormes conhecimentos acumulados em áreas como engenharia
aeronáutica, exploração de gás e petróleo, mineração. Queremos que
brasileiros possam usufruir desses conhecimentos, o que fortalecerá
parcerias produtivas em nossos países".
Agora,
a Rússia vem de integrar-se oficialmente ao Programa Ciência sem
Fronteiras, executado pelo CNPq e Finep, para a formação de
especialistas brasileiros em universidades, centros de pesquisa e
empresas russos. O respectivo Memorando de Entendimento foi firmado pelo
Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, Marco Antonio
Raupp (ao lado do Secretário Executivo do Ministério da Educação, José
Henrique Paim; a Finep está subordinada a esse Ministério) e pelo
Vice-Ministro de Educação e Ciência da Rússia, Igor Fedyukin.
O
Programa Ciência sem Fronteiras será, igualmente, a base de apoio do
sistema lançado pela AEB para formar especialistas em áreas espaciais em
parceria com agências espaciais dos países mais avançados no setor,
inclusive e, em especial, a Roscosmos, da Rússia.
A
propósito, o Premier Medvedev anunciou a intenção da Rússia de propor
"uma série de novos projetos" conjuntos com o Brasil nas áreas de
tecnologia espacial, petróleo e energia atômica. E disse: "Podemos
estabelecer uma aliança tecnológica que ajude nossos povos e nossas
empresas".
Cooperação espacial - A Declaração
Conjunta saudou a inauguração na Universidade de Brasília (UnB), em 19
de fevereiro, da estação de referência de correção diferencial do
sistema russo de navegação por satélites GLONASS, bem como a
assinatura do contrato entre a Fundação UnB e a Corporação de Pesquisa
Científica e Produção "Sistemas de Medição Precisa" (OAO NPK SPP)" para
instalação, uso e pesquisa no Brasil da Estação Óptica, equipada com
Estação de Medição Unidirecional (OWS) MS GLONASS (Sazhen-TM-OWS), no
Brasil.
Os
dois países também estão prontos para estudar o aumento da participação
brasileira no desenvolvimento e uso do sistema GLONASS, conforme prevê o
programa de cooperação entre a Agência Espacial Brasileira e a
Roskosmos, a agência espacial russa.
A
declaração saudou ainda a conclusão do Memorando de Entendimento entre a
empresa JSC "Tecnologias Russas da Navegação" e a Prefeitura de
Goiânia, através da Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano
Sustentável, estabelecendo cooperação em torno do Projeto "Goiânia
Sustentável", com a troca de especialistas, desenvolvimento de pesquisa e
capacitação de pessoal.
Rússia e China -
Ambos planejam ampliar seu mercado espacial. Ao deixar Brasília, o
Premier Medvedev viajou para Havana, onde informou à agência UPI e à
imprensa cubana, em 22 de fevereiro, que a Rússia deseja aumentar sua
participação no mercado global de serviços espaciais dos atuais 10% para
15%. Ele afirmou: "Queremos não ser apenas uma potência científica
líder, um país empenhado em pesquisa espacial, mas também um
protagonista no mercado de serviços espaciais". E argumentou: "Fomos os
primeiros no espaço e acreditamos que essa é a nossa vantagem
competitiva. Mas é impossível não investir no espaço. Se nos louvamos só
pelo lançamento do primeiro satélite e do voo de Gagarin, nós
simplesmente ficaremos para trás." Medvedev observou que o objetivo
principal da Rússia na expansão de seu mercado espacial é colocar mais
satélites em órbita e promover mais lançamentos internacionais.
A
Rússia, sabe-se, está reavaliando seu programa espacial, a fim de
investir nele 69 bilhões de dólares até 2020, ou seja, uma média de
8,625 bilhões por ano. Nada mal.
Brasil e China
- Está programado para este primeiro semestre de 2013 o lançamento do
satélite CBERS-3, que não pôde ser lançado no fim de 2012, como
previsto, por problemas surgidos com equipamentos adquiridos para o
satélite capazes de comprometer o êxito da missão. As equipes técnicas
brasileira e chinesa trabalham a todo o vapor para levar a cabo a
operação o quanto antes.
Os
grupos de trabalho designados pelos dois países devem iniciar em breve
seus encontros destinados à elaboração do Plano Decenal de Cooperação
Espacial Brasil-China, conforme decisão adotada pelos respectivos
governos. A iniciativa de criar e executar um plano de cooperação
espacial ao longo de dez anos é inédita na história das atividades
espaciais.
O
Brasil começa o ano de 2013 comprometido com os objetivos e metas
traçadas pelo novo Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE
2012-2021), que tem como prioridade maior "impulsionar o avanço
industrial". Esse esforço já se reflete no trabalho em pleno andamento
da nova empresa Visiona, constituída pela Telebras, do Ministério das
Comunicações, e pela Embraer, empresa privada de reconhecido prestígio
internacional, que coordena a construção do primeiro Satélite
Geoestacionário de Comunicação e Defesa (SGDC) do Brasil, a ser lançado
em 2014.
A
China promete, para este ano, nada menos de 20 lançamentos espaciais,
inclusive o da sua primeira sonda a pousar na Lua, a Chang'e-3, e o
Shenzhou-10, nave que dará início à construção da primeira estação
espacial do país. A missão para coletar amostras do solo e de rochas da
Lua está prevista para 2017. Fontes oficiais dão conta de que, em 2020, a
China planeja ter em órbita 200 objetos espaciais ativos, que poderão
representar cerca de 20% do total que existirá então.
Mesmo
sem falar nos programas espaciais e de outras esferas de cooperação
internacional da Índia e da África do Sul (países com os quais o Brasil
desenvolve o projeto do satélite IBAS), há boas razões para acreditar
que a Cúpula do BRICS será um evento positivo, otimista e rico em
perspectivas, tanto para seus países membros como para o mundo inteiro.
Algo bem diferente do que se observa em outras regiões e fóruns do
planeta. Isso poderá ficar ainda mais claro se nossa grande mídia se
dispor a cobrir o encontro, dando-lhe a importância e o peso que ele já
conquistou.
Referências
1) Casella, Paulo Borba, BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul: uma perspectiva de cooperação internacional,
São Paulo: Atlas, 2011. Casella, autor de inúmeros livros, é Professor
Titular de Direito Internacional Público e Chefe do Departamento de
Direito Internacional da Faculdade de Direito da Universidade de São
Pulo (USP).
Anotações às vésperas da Cúpula do BRICS - 26/02/2013.
Reviewed by Consultor de Segurança Eletrônica
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01:48:00
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