Relação dos EUA com Brasil não deve mudar com John Kerry como secretário de Estado. |
Por: Pablo Uchoa
O Brasil deve esperar "continuidade" nas
suas relações com os Estados Unidos no segundo mandato do presidente
Barack Obama, que começa oficialmente neste domingo, com as tradicionais
celebrações na escadaria do prédio do Capitólio e no coração da
capital, Washington, marcadas para a segunda-feira.
A principal mudança na equipe de política
externa de Obama será a substituição da atual secretária de Estado,
Hillary Clinton, pelo senador John Kerry – que ainda precisa ser
sabatinado pelos colegas da Comissão de Relações Exteriores, o que só
deve ocorrer a partir do fim deste mês.
Até lá, o Departamento de Estado americano evitará comentar as mudanças de equipe ou de estilo que podem vir com o novo chefe. "Queremos que ele seja o primeiro a falar sobre o que fará diferente de Hillary Clinton", foi a linha oficial que um assessor do órgão deu à BBC Brasil.
Até lá, o Departamento de Estado americano evitará comentar as mudanças de equipe ou de estilo que podem vir com o novo chefe. "Queremos que ele seja o primeiro a falar sobre o que fará diferente de Hillary Clinton", foi a linha oficial que um assessor do órgão deu à BBC Brasil.
Hillary Clinton, com estatura suficiente
de presidenciável, elevou ainda mais a já alta visibilidade da
diplomacia americana. Mesmo assim, não descumpriu a orientação do chefe,
de estabelecer uma relação entre os EUA e o mundo menos bélica e menos
intervencionista, em contraposição aos dois mandatos do republicano
George W. Bush.
A atual secretária de Estado é creditada
com as iniciativas da diplomacia para promover a igualdade de gêneros,
que muitos analistas acreditam será uma de suas marcas à frente da
pasta.
Já John Kerry, creem analistas, pode ser
uma figura ainda mais adequada ao perfil de Obama. Ele é visto como
menos "político" e mais pragmático que Clinton e, devido à sua menor
visibilidade, talvez até mais afeito às negociações de bastidores.
Brasil
Mas não é esperado que uma mudança de
"estilo" no Departamento represente grande mudança para as relações
Brasil-EUA, "refundadas" pelos presidentes Dilma Rousseff e Barack
Obama.
A visita de Obama ao Brasil, em 2011, e
de Dilma aos EUA, em abril passado, injetaram uma dinâmica positiva no
relacionamento que estava desgastado no final do governo do
ex-presidente Lula, em consequência das divergências em relação ao Irã, o
golpe em Honduras em 2009 e posições conflitantes em fóruns
multilaterais.
Dilma e Obama assinaram 15 acordos
bilaterais e criaram – ou elevaram – os chamados diálogos de alto nível,
incluindo quatro de nível presidencial, no qual os países debatem desde
temas comerciais à política internacional e defesa, de integração
energética à educação e o meio ambiente.
Algumas destas iniciativas ficarão sob a batuta de John Kerry, quando ele for confirmado para substituir a secretária Clinton.
No entanto, mesmo os integrantes do
governo Obama indicam que o ímpeto das relações Brasil-EUA não parte
necessariamente do Departamento de Estado, e sim dos setores comerciais
da administração.
Negócios
Os contatos mais vívidos estão nos
diálogos de comércio, energia, inovação e nas iniciativas de educação
(programas como o Ciência Sem Fronteiras que, de certa forma, também
foram pensados do ponto de vista econômico).
À BBC Brasil, o subsecretário americano
de Comércio, Francisco Sanchez, disse que os dois países também estão
procurando incentivar cada vez mais a participação do setor privado nos
diálogos.
Sanchez também destacou o "trabalho de
formiga" de harmonizar os padrões e medidas, integrar as cadeias de
produção e reduzir barreiras não-tarifárias, que podem surtir efeito a
partir de medidas simples.
"Podíamos estar avançando mais rápido na
relação", reconheceu, "mas é preciso colocá-la em um contexto. Se
considerarmos que o Brasil está seguindo uma trajetória econômica que
começou há apenas 18 anos, com Fernando Henrique Cardoso, é uma
aproximação que tem pouco tempo", argumentou.
"Como secretária, Clinton reconheceu
profundamente que as relações com a América Latina teriam de se dar com
base no respeito e em parcerias. Tenho certeza de que Kerry também o
fará. Será uma gestão de continuidade e de aperfeiçoamento da relação."
Ausência de ideias
Em sua última visita aos EUA, o ministro
das Relações Exteriores, Antonio Patriota, manifestou que o Brasil não
está no centro das atenções da diplomacia americana porque a região
"oferece mais soluções que problemas". Alguns analistas concordam com
esta avaliação.
Mas outros, como Peter Hakim, presidente
emérito do Interamerican Dialogue, centro referência em temas
latino-americanos na comunidade de intelectuais de Washington, lamentam a
distância entre os dois países.
Fosse o Brasil localizado na Europa ou na
Ásia, estaria "no centro" das atenções dos EUA, sugeriu Hakim em um
evento nesta semana, na sede da entidade. Para ele, a relação Brasil-EUA
carece de "ideias" que a elevem a nível mais alto.
Fazendo referência a um artigo que
escreveu recentemente na revista do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), o especialista argumentou que "os EUA querem tratar o
Brasil como o México, e o Brasil quer que Estados Unidos o tratem como a
Índia".
Traduzindo: ele avalia que os americanos
desejam pautar a relação com o Brasil pelos negócios, da mesma forma que
discutem livre comércio e narcotráfico com o México, mas evitam, por
exemplo, temas como imigração e combate ao consumo de drogas em casa.
Já o Brasil preferiria ser tratado como a
Índia, país que tem um acordo nuclear com os EUA – apesar de seu
passado recalcitrante e armamentista – e cujos líderes recebem recepção
de Estado em Washington.
Para Brasília, temas políticos, como um
apoio à candidatura a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança,
são importantes, acredita Hakim.
Mas se houve pouco avanço neles durante a
gestão de Hillary Clinton no Departamento de Estado, há poucas razões
para crer que será diferente durante o mandato de Kerry.
Fonte: BBC Brasil.
Sai Hillary, entra Kerry: o que muda para o Brasil?
Reviewed by Consultor de Segurança Eletrônica
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21:08:00
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