Por: Hugh Schofield.
Para o presidente François Hollande – e,
na verdade, para toda a França –, tudo mudou nesta semana após a decisão
de ir à guerra na África, e o mandatário se tornou um novo tipo de
líder. A crítica recorrente a Hollande,
socialista eleito em maio do ano passado, sempre foi a de que ele é
muito brando. Mas a rapidez da ação contra os jihadistas no Mali – e o
sinal verde para a fracassada missão de resgate na Somália – revelaram
um homem capaz de tomar decisões corajosas e arriscadas. Não pela primeira vez, uma intervenção no
exterior ajudou a reinventar a imagem de um presidente que estava
patinando nas pesquisas. E para a França, é um novo mundo porque o
país agora está engajado – efetivamente sozinho – em um conflito
externo contra radicais islâmicos.
Consequências
As consequências são potencialmente
enormes – dos riscos de fracasso da missão militar às repercussões
estratégicas nas relações da França na África e à ameaça muito real de
represálias terroristas contra reféns e contra a França. Paris tem antigos interesses e
conhecimento nesta parte do mundo. O Mali foi sua colônia até 1960 e há
fortes laços familiares e de comércio entre os dois países.
A França também tem 3,5 mil soldados
estacionados em países vizinhos – parte do antigo comprometimento
militar com a África de língua francesa que os governos recentes têm na
verdade prometido reduzir. Atualmente Hollande tem o apoio de quase
toda a classe política, porque no geral as pessoas concordaram com seu
argumento de que a situação no Mali se tornou crítica.
O avanço da aliança jihadista, os franceses ouviram repetidamente, ameaçava a sobrevivência de uma nação amiga. Se os islamitas tomassem Mopti, no centro
do Mali, em poucos dias conseguiriam tomar a capital, Bamako. E então
haveria um Estado terrorista a um curto voo de distância de Paris.
Em um mundo ideal, o Exército do Mali
teria feito seu trabalho e contido o avanço. Ou, caso isso fracassasse,
as forças da coalizão da África Ocidental, autorizadas pela ONU
(Organização das Nações Unidas), estariam prontas para reagir. Mas nada disso aconteceu. Então, a única alternativa da França era agir.
Dúvidas
Por algum tempo, provavelmente alguns
dias ou semanas, haverá uma tendência automática a elogiar o
recém-descoberto entusiasmo do presidente francês. Mas percebe-se que já há perguntas sendo
feitas sobre os objetivos da operação, como seu sucesso será julgado e
como será finalizada. Da tarefa inicial de fazer retroceder o
avanço das colunas jihadistas, os franceses agora voltam sua atenção
para centenas de quilômetros ao norte, onde estão bombardeando campos de
treinamento e depósitos de munição.
O objetivo claro é enfraquecer a infra-estrutura dos islamitas ao ponto de que eles sucumbam diante de um novo avanço do sul. Mas quem irá liderar esse avanço? O
Exército do Mali precisa de ajuda externa até mesmo para resistir. O
apoio da África Ocidental supostamente está a caminho, mas será que
consegue enfrentar uma grande ofensiva? Ou será que as forças francesas terão de ser enviadas para fazer o trabalho? Analistas afirmam que os combates vão
terminar em alguns meses, porque depois disso, o calor e as chuvas vão
tornar impossível guerrear. Então, o plano é ter acabado com os
jihadistas até março?
Futuro
E então, o quê? O Mali já é um Estado
disfuncional. Desde o golpe militar, há um ano, a política no país está
mergulhada no caos. Será que as forças francesas serão vistas
algum dia como forças que sustentam um regime impopular, que usa a
constante desculpa do extremismo islâmico para justificar sua
permanência no poder? Nada disso precisa acontecer, obviamente.
Se a sorte estiver com os franceses, então a aliança jihadista poderá
se provar um "tigre de papel". Seus combatentes poderão desaparecer nas areias e deixar as cidades novamente sob controle do governo. Mas ninguém deve ter a ilusão de que isso necessariamente irá acontecer. Os franceses estão contentes em ver que seu presidente tem personalidade. Eles acreditam que o que Hollande fez está certo. Mas é um novo mundo, cheio de perigos.
Fonte: BBC Brasil.
Intervenção francesa no Mali representa risco para 'novo' Hollande.
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23:14:00
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