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Sexto país mais rico do mundo e o 20º mais violento.


Diferentemente do que foi noticiado pelo jornal Folha de S. Paulo (em 7 de outubro de 2011), que colocou o Brasil em 26º lugar dentre os países mais homicidas do mundo, levantamentos e análises realizados pelo Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes (IPC-LFG) apontaram que na verdade o Brasil fechou o ano de 2009 como o 20º país mais homicida do mundo, matando violentamente 26,9 pessoas a cada 100 mil habitantes.
Se o resultado já é exorbitante em âmbitos nacionais, quando verificamos os estados da Federação, isoladamente, os números são ainda mais dramáticos.
Com uma taxa de 59,3 mortes violentas a cada 100 mil habitantes (igualando-se ao 3º país que mais mata no mundo, Costa do Marfim, 56,9), em 2009, Alagoas liderou como o estado mais homicida do país. Posição que cultivava desde 2008, quando apresentava uma taxa de 60,3 homicídios a cada 100 mil habitantes.
Tais constatações se baseiam nos números divulgados pelo Datasus (Ministério da Saúde) relativamente a esses períodos. Assim sendo, na década 1999/2009, o Alagoas sofreu um retrocesso de onze posições, visto que em 1999 possuía uma taxa três vezes menor, de 20,3 mortes a cada 100 mil habitantes, ocupando a 12ª posição no país.
Os estados que se colocaram respectivamente na 2ª, 3ª e 4ª posição foram o Espírito Santo, com uma taxa de 57,2 mortes violentas a cada 100 mil habitantes, Pernambuco, com uma taxa de 44,9 mortes e o Pará, com 40,3 mortes a cada 100 mil habitantes.
Verifica-se, assim, que figuram nas primeiras colocações estados de três regiões distintas (norte, nordeste e sudeste) e que, por mais que se argumente que os homicídios atingem mais uma região do país do que outra, cada uma delas possui um estado mais vitimado pela violência, seja por suas peculiaridades na desigualdade, seja por menores investimentos governamentais.
O Brasil nasceu (em 1822) dividindo sua população em duas partes: os incluídos e os excluídos (afrodescendentes, índios, mestiços etc.). Segregação territorial e discriminação econômica, racial e étnica, fundada em desigualdades brutais (econômicas, sociais, políticas, existenciais, morais e emocionais). Várias caveiras foram plantadas no solo brasileiro (em razão dos seus “consensos sociais inarticulados” — Foucault). Enquanto não forem desenterradas, sempre ficará a sensação (ou a realidade) de que o inferno é aqui mesmo.
Por Luiz Flávio Gomes.


89% dos jovens (18 a 24 anos) têm orgulho de ser brasileiros; 76% acreditam que o Brasil está mudando para melhor e 86% afirmaram que o país é importante no mundo hoje (revelou a pesquisa Sonho brasileiro, divulgada em 13/06/11). Razões? Acreditam no futuro de um país promissor, afinal, detentor da 6ª economia mundial, sede da copa do mundo de 2014 e das olimpíadas de 2016, o Brasil é destaque internacional como polo de investimento, desenvolvimento (ainda que não na velocidade que deveria) e  oportunidades.
Incontestáveis os avanços conquistados nas últimas décadas, porém, não tão virtuosos como se poderia imaginar, diante dos cenários paradoxais que revelam um país muito aquém do nível do orgulho nacional juvenil. O brilho de ostentar a 6ª posição na economia mundial (Relatório do Fundo Monetário Internacional, 2011) resulta ofuscado com o 73º lugar no ranking internacional da igualdade social (o IDHAD - Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade - Relatório de Desenvolvimento Humano – PNUD) e praticamente apagado com a 4ª posição no ranking das nações com pior distribuição de renda da América Latina (Relatório sobre cidades latino-americanas da ONU).
De que vale ser o país sede da copa do mundo e das olimpíadas, com investimentos bilionários em infraestrutura e construção de estádios (os gastos estimados da Copa do Mundo do Brasil subiram para R$ 27,4 bilhões, segundo estudo divulgado pelo Tribunal de Contas da União - TCU), se, de acordo com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o Brasil ainda possui 16 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema (ou seja, com renda mensal de até 70 reais)?
Embora a pesquisa demonstre um sentimento otimista em relação ao Brasil, o país é extremamente deficiente no tocante à equidade no acesso à saúde, educação e renda, além de figurar como um dos países mais violentos do mundo.
Somente em 2010, foram assassinadas 52.260 pessoas, ou seja, 27,3 mortes por 100 mil habitantes (de acordo com os dados disponibilizados pelo Datasus – Ministério da Saúde). Com toda esta mortandade generalizada e descontrolada, o Brasil é o 20º país mais homicida do mundo, atrás apenas de: 1º Honduras (taxa de 82,1 mortes/100mil), 2º El Salvador (66 mortes/100mil), 3º Costa do Marfim (56,9 mortes/100mil), 4º Jamaica (52,1 mortes/100mil), 5º Venezuela (49 mortes/100mil), 6º Belize (41,7 mortes/100mil), 7º Guatemala (41,4 mortes/100mil), 8º Ilhas Virgens (39,2 mortes/100mil), 9º São Cristóvão e Nevis (38,2 mortes/100mil), 10º Zâmbia (38 mortes/100mil), 11º Uganda (36,3 mortes/100mil), 12º Malauí (36 mortes/100mil), 13º Trindade e Tobago (35,2 mortes/100mil), 14º África do Sul (33,8 mortes/100mil), 15º Lesoto (33,6 mortes/100mil), 16º Colômbia 33,4 mortes/100mil), 17º Congo (30,8 mortes/100mil), 18º República da África Central (29,3 mortes/100mil) e 19º Bahamas 28 mortes/100mil).
Note-se, nenhum dos 19 países mais homicidas do mundo compõe as primeiras colocações no ranking mundial da economia. Quando observadas suas taxas, equivalem às piores posições no PIB (por exemplo, Honduras, El Salvador e Costa do Marfim, correspondem, respectivamente a 109ª, 99ª e 97ª colocação no ranking). A mesma lógica é obtida quando verificada as posições no ranking da violência dos 10 primeiros países mais ricos do mundo (excetuando-se o Brasil), tendo em vista que os Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Rússia e Canadá, ocupam, respectivamente, a 102ª, 174ª, 203ª, 192ª, 162ª, 173ª, 182ª, 67ª e 148ª colocações no ranking mundial da violência.
Dentre os dez países mais ricos do mundo, Brasil é o único que se encontra no Top 66, visto que em segundo lugar vem a Rússia que ocupa a 67ª posição nesse ranking maldito (o do extermínio massivo de seres humanos).
Com todas as suas contradições, nitidamente atreladas à sua economia escravagista, fugimos nitidamente da regra. Os ricos não são violentos ou não são tão violentos como o Brasil. Mesmo ostentando o 6º lugar no PIB, também se destaca como o país do morticídio massivo, o que revela o seguinte: deter um dos maiores produto interno bruto do mundo não significa indicadores prósperos na área social (saúde e educação), nem tampouco relacionados à distribuição de renda do país. Grande país com os pés de barro.
Ser economicamente desenvolvido não significa, necessariamente, avanço nas demais áreas. O Brasil é um país rico, mas não é um país de todos. Continua muito desigual, miserável, doente, analfabeto e extremamente violento. Para que a nação alcance níveis europeus de assassinatos, tal como os dez primeiros países no ranking mundial da economia, a prioridade deve ser mais investimento na esfera social, diminuindo as distâncias entre as extremidades.
Contrariando toda cultura sociológica (Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda etc.), nossos números revelam que nós não somos (ou não somos ainda) um país pacífico (ou cordial). Não temos consistência social, ou seja, não existe massa muscular sociocultural suficiente para justificar que 90% dos jovens sintam-se orgulhosos do Brasil. É mais uma questão de percepção, de subjetividade, de esperança, que de razão objetiva. O paradoxo não passa de um retrato do otimismo injustificado do brasileiro ou, pior, da desinformação, da ausência de conhecimento da realidade socioeconômica do país. Se de um lado a ideia de que somos um país já universalmente próspero constitui um mito, uma construção popular/política falaciosa (proposital ou não), de outro, ela não há como negar que ela seja uma bandeira individual e coletiva que devemos orgulhosamente levantar.
por: LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e professor.

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