Este artigo que agora apresentamos
aos nossos leitores é para nós importante, não só pelo assunto em si, o
qual já tem sido referido em Portugal como uma forte possibilidade para
substituir o C-130, como pelo seu autor: Mário Roberto Vaz Carneiro. Trata-se
de um amigo de longa data do António Carmo, director de uma das mais
importantes revistas de assuntos militares do Brasil, a “Segurança &
Defesa”, e acima de tudo, um profundo conhecedor dos assuntos militares
deste grande país de língua portuguesa. Bem vindo ao “Operacional”,
Mário.
Desde sua criação, a Embraer sempre se
caracterizou pela capacidade de identificar nichos de mercado, e a
seguir desenvolver produtos especificamente dedicados a atender os
anseios existentes e latentes entre possíveis usuários. Foi assim com o
EMB-110 Bandeirante, o EMB-120 Brasilia, o EMB-312 Tucano, o ERJ-145, o
EMB-170 e -190, e suas respectivas “famílias”. Em 2005, por conta própria, a empresa brasileira percebeu a oportunidade
que existia para um possível sucessor do cargueiro militar C-130 e de
outras aeronaves equivalentes. A própria Lockheed havia lançado o
C-130J, com novos motores, mas devido à sua relação custo/benefício não
tão favorável o avião não havia repetido o sucesso de seu antecessor.
Com isso, observou-se que os maiores competidores na corrida por um
substituto do C-130 clássico eram os C-130 modernizados. Entretanto, o
custo unitário de uma modernização profunda girava na época em torno dos
US$32 milhões, o que levou a Embraer a concluir que muitos clientes
haveriam de preferir parar US$50 milhões e ter um avião “zero km” e de
custo operacional mais baixo. Num primeiro momento, a Embraer
objetivou oferecer ao mercado um avião com a mesma carga útil do C-130
(19t), a um custo superior em 43% ao de um Alenia C-27J (cuja carga útil
era de apenas 10t). Da frota mundial de 2.802 cargueiros na categoria
do C-130, a empresa verificou que 1.613 tinham idade acima de 25 anos.
Destes, 605 estariam na mão de Estados Unidos, Ucrânia e Rússia, que
produzem seus próprios aviões cargueiros. Descontando-se os países que
já tinham aderido ao C-130J ou ao A-400M, a Embraer identificou
finalmente um mercado potencial de 695 aeronaves da categoria do C-390,
espalhado por 77 países. Como forma de reduzir ao máximo o custo de desenvolvimento do aparelho,
foi decidido utilizar componentes do Embraer 190 - asas, fuselagem,
cabine de pilotagem. Foi neste formato que, por ocasião da feira
LAAD2007 (Latin America Aero & Defence), no Rio de Janeiro, a
Embraer anunciou os estudos em andamento. A idéia de aproveitar partes do -190,
porém, não foi além dos estágios iniciais. Como o principal cliente em
potencial era a FAB (Força Aérea Brasileira), o passo lógico foi a
participação dos militares nas definições mais precisas dos requisitos,
aspecto que passou a ter maior importância ainda com o lançamento da END
(Estratégia Nacional de Defesa). As novas especificações ditaram o
abandono do conceito de comonalidade com o -190, e resultaram na
introdução de várias modificações. As principais são: novas asas, cauda
em “T” e reprojeto da fuselagem, do nariz e da rampa traseira. Se por um lado a comonalidade traria um menor custo de desenvolvimento, a
nova filosofia do projeto resultará em uma aeronave substancialmente
mais capaz, e com potencial de exportação muito superior. Algumas
características foram mantidas, como a capacidade de pousar e decolar a
partir de pistas não preparadas, e a capacidade de transportar um
exemplar de blindados como o Patria AMV, o LAV-25 ou o EE-11 Urutu, ou
ainda três HMMWV ou equivalentes. O avião
terá casulos subalares para reabastecimento em vôo, pelo sistema “probe
and drogue”, além de “probe” para ser reabastecida em vôo, e recebeu a
nova designação KC-390, refletindo o fato de que - a não ser que o
cliente especifique o contrário - todos os exemplares de produção serão
capazes de realizar missões de REVO sem grandes modificações. Durante a LAAD2009, a Embraer assinou com a Força Aérea Brasileira o
contrato para o desenvolvimento da aeronave. A passagem do controle do
programa para o Comando da Aeronáutica, sob a égide do programa KC-X,
significa, entre outras coisas, que a propriedade intelectual do projeto
passa a ser do governo. A Embraer está conversando com várias empresas estrangeiras com vistas
ao fechamento de parcerias na forma de contratos de risco, a exemplo do
que já foi feito em programas anteriores da empresa, como o ERJ-145.
Entretanto, desta feita o enfoque será diferente. As possíveis parcerias
industriais serão construídas a partir do interesse de governos
estrangeiros em eventualmente adquirir a aeronave para equipar suas
forças aéreas. Embora haja sigilo sobre o assunto, sabe-se que Chile e
África do Sul são dois dos principais “candidatos”. Os
principais usuários em potencial - forças aéreas de vários países - têm
sido consultados a respeito de seus requisitos, de forma a que a
aeronave final possa ser o mais adequada possível. Da mesma forma,
várias empresas de transporte de carga estão sendo contactadas a
respeito das características e desempenho desejáveis. Essa vertente do
mercado é muito interessante e a Embraer já anunciou que vai objetivar
também a certificação civil do avião (FAR Part 25), como forma de atrair
possíveis encomendas desse segmento. A ECT (Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos), do Brasil, já manifestou seu interesse, visando o
transporte noturno de carga e encomendas. A Força Aérea Brasileira pensa, num primeiro momento, em adquirir de 22 a
30 exemplares, com entrada em serviço a partir de 2015. Já houve
manifestações extra-oficiais por parte de outras forças aéreas (Colômbia
e Portugal são exemplos recentes) de que poderiam ter interesse no
KC-390. Não é à toa, portanto, que a Embraer esteja entusiasmada com as
possibilidades, embora oficialmente seja mantida uma cuidadosa
discrição, inclusive- ou até principalmente - por parte do
Vice-Presidente de Defesa, Orlando José Ferreira Neto.
Durante os próximos dois anos, os estudos serão aprofundados e será
iniciado o projeto detalhado propriamente dito, o que permitirá que as
conversas com parceiros estrangeiros possam ser mais concretas. Esse
procedimento levará a providências importantes, como por exemplo a
escolha dos motores. Baseada nessa interação e em sua “expertise” em
projeto e construção de células, integração de sistemas e funcionamento
de acordos internacionais, a empresa espera obter mais um modelo
vencedor.
Nota: As imagens acima foram cedidas pela EMBRAER.
Por: Miguel Machado.
A NOVA APOSTA DA EMBRAER - KC-390.
Reviewed by Consultor de Segurança Eletrônica
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02:57:00
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